8 de ago. de 2009

Mateus, o funcionário público que virou escritor

Mateus seria o nome de um funcionário público como chamaríamos hoje. Esta função era, na época, reconhecida com o título de publicano ou cobrador de impostos a serviço do governo romano ou do rei Herodes. Mateus exercia sua função estatal em Cafarnaum, uma das cidades mais importantes à margem do Mar da Galiléia, sendo mesmo talvez o maior entreposto pesqueiro da região naquela época.

A narrativa bíblica nos conta que estando ele assentado na agência da alfândega local, Jesus o chamou para segui-lo como discípulo. O texto nos fala que ele, levantando- se prontamente, seguiu a Jesus, abrindo mão de todas as garantias e prestigio que a função pública lhe dava, embora desfrutassem os publicanos de certa resistência por parte dos seus compatriotas, pois eram vistos como traidores já que cobravam impostos para César (Mt 9.9; Mc 2.14; Lc 5.27).

Mais tarde ele será contado entre os doze apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15). Nestes dois últimos Evangelhos ele é denominado de Levi, filho de Alfeu. Era comum entre os judeus usarem dois nomes, por isso mesmo é bem provável que ele se chamasse a princípio pelos dois nomes (Levi, uma referência talvez à tribo dos seus antepassados), e que o nome de Mateus lhe tenha sido dado apenas após a sua conversão a Cristo, como aconteceu com Simão, a quem o próprio Jesus passou a chamar de Pedro, Simão Pedro.

Nas listas dos apóstolos ele figura sempre com o nome de Mateus, pelo qual também é conhecido o primeiro Evangelho. O fato de Jesus receber em seu discipulado um publicano, evidentemente animou outros homens das classes menos nobres, a segui-lo também. Com isso aumentou o ódio dos fariseus contra Jesus. Verifica-se isto por ocasião do banquete com que Mateus recepciona Jesus em sua casa, logo após a sua conversão, quando muitos publicanos e pecadores ali compareceram, provocando a crítica dos fariseus, aos quais Jesus deu famosa resposta. "Eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento" (Mt 10.13; Mc 2.15-17; Lc 5.29-32). Mateus não diz se o banquete foi em sua casa (Mt 9.10), porém tanto Marcos como Lucas (Mc 2.15; Lc 5.29), o dizem. Este último ainda acrescenta: "e lhe deu um grande banquete". Afirma a tradição que ele escreveu o seu Evangelho para os judeus.

Sua autoria do Evangelho, que leva o seu nome, é confirmada pela tradição unânime da igreja antiga pelo menos por quatro aspectos:
  1. Pela evidência que nos fornece em todo o seu conteúdo, mostrando que o escritor era judeu convertido ao cristianismo e emancipado do judaísmo;
  2. Como um livro tão importante como é este Evangelho, teria sido atribuído a um tão obscuro apóstolo sem que houvesse poderosas razões que o justificassem?
  3. Pela semelhança de sua forma de escrever o texto narrativo com os processos empregados pelos publicanos naquela época;
  4. Pelo modo reservado e discreto como descreve o banquete que deu a Jesus em sua casa diferindo da forma de Marcos e principalmente de Lucas,o que demonstra a discrição do seu espírito e de seu temperamento, pois pouco aparece ou é citado em toda a narrativa.
Para os historiadores, o Evangelho de Mateus, para ser bem compreendido, requer dos seus estudiosos a visão de uma igreja judaico-gentílica, alguns anos depois da primeira guerra judaico-romana (66/70 d.C), que foi a época em que deve ter sido escrito. Jerusalém e seu templo haviam sido destruídos, e a ruptura entre o judaísmo e o cristianismo estava agora completa. O que inicialmente havia sido uma igreja totalmente judaica, agora estava sendo ameaçada, de um lado por suas origens judaicas e pelo legalismo farisaico e, do lado, por sua formação gentílica, pelo antinomianismo ou libertinismo, com a discussão que levantavam de que em Cristo a Lei não seria mais exigida, o que era um duro golpe na convicção dos cristãos judeus.

Dentre os comentaristas que expõem sobre este Evangelho, podemos retirar algumas frases que registram a importância e significado deste livro, além daquilo que uma simples leitura pode nos oferecer:

"Lutando em duas frentes, Mateus indica um caminho que foge, por um lado, ao orgulho, superficialidade e irrelevância do legalismo, e, de outro, ao colapso moral e irresponsabilidade ética da licença que se mascara de liberdade".

"Mateus desejava principalmente convencer os seus leitores ou reafirmar-lhes que Jesus é o Cristo das expectativas veterotestamentárias, e o criador de um novo povo, de uma igreja indestrutível. Esta igreja não é vista nem como um "novo Israel" nem como um "verdadeiro Israel", mas como o povo de Deus, constituído de judeus e gentios. Mateus considerou a destruição de Jerusalém como julgamento sobre Israel, por ter rejeitado Jesus como o Cristo.
Ele considerava Jesus como o cumprimento da Lei, tanto como seu intérprete quanto alguém que realmente viveu à altura das intenções da Lei".

Bibliografia: Capacitação Cristã - Novo Testamento - JUERP

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